CONTEÚDO

Sector residencial terá de se reinventar sem o trunfo dos Vistos Gold

Augusto Homem de Mello, Marketing & Sales Director, da promotora suiça Mexto, lembra que o que se pode aprender com esta crise é que há uma clara necessidade de simplificar processos e procedimentos, com a ajuda da tecnologia.

O responsável indica ainda que toda e qualquer medida que vise reduzir a burocracia e aumentar a celeridade dos processos de licenciamento, são de crítica importância.

O que se pode esperar para o mercado imobiliário em 2021?

No que toca ao mercado residencial, em particular, é de esperar que o ano comece com uma lenta recuperação. Historicamente, o primeiro trimestre é sempre o mais fraco em termos de vendas, mas será também, neste caso, uma espécie de ensaio geral para o resto do ano. Até porque temos novos cenários no horizonte que nos permitem aspirar mais confiança, como a vacina que, a resultar com alguma celeridade, poderá reduzir substancialmente o efeito Covid que se tem sentido, em especial, nos procedimentos e na logística do dia-a-dia. Digo a este nível, porque apesar das dificuldades que esta crise nos trouxe, o mercado nunca parou na generalidade. Em particular, a Mexto manteve uma surpreendente dinâmica comercial tanto ao nível de lançamentos de novos projectos como na conclusão de vendas nos projectos já em obra, como o Avencas Ocean View Residences ou o Rodrigo da Fonseca Prime Residences.

Há algumas tendências que se podem adivinhar, mas que me parecem mais reacções momentâneas decorrentes do que temos vivido até aqui, como seja a procura de casas fora dos centros urbanos, mais espaços exteriores, maiores áreas para integração de espaços de trabalho, etc…. São, sem duvida critérios que estão a mudar a procura e que poderão continuar a aumentar em 2021, mas não vejo que sejam a tal ponto de mudar o paradigma da procura em termos gerais, até porque, como me parece ser opinião unânime dos players de mercado, quase todos os “fundamentals” se mantêm inalterados, ou seja o racional de investimento permanece intacto, estando apenas mais obstruído pela actual pandemia. Uma vez resolvida esta instabilidade (a vacina é a grande esperança), parece-me que a segunda metade de 2021 nos trará o regresso da tão desejada normalidade.

Quais os desafios que se vão colocar ao sector para este ano?

O que podemos aprender com esta crise é que há uma clara necessidade de simplificar processos e procedimentos e a tecnologia pode e deve passar pela solução. A velocidade do licenciamento de projectos sofreu ainda mais com esta pandemia e isso reflecte-se em insuportáveis (em alguns casos) atrasos que, inevitavelmente, terão reflexo financeiro nos business plans dos promotores que, por sua vez, reduz o apetite por parte de investidores internacionais, tão importantes, como sabemos. Assim, o maior desafio é reduzir o estrangulamento que ainda se verifica ao nível do licenciamento, muito dependente do factor humano. Reconhecer que o digital pode trazer consideráveis vantagens, desburocratizar tarefas menores, etc, desde que todos estejam disponíveis para evoluir neste sentido.

Parece-me que ainda será um desafio para 2021 manter o sector da construção competitivo e em pleno funcionamento. Julgo que o pior já terá passado, mas este contexto obriga a uma gestão dinâmica e criativa, em alguns casos, para colmatar possíveis falhas de abastecimento de materiais em obra, ou trabalhar com prazos de entrega mais alargados, por exemplo. A Mexto lançou recentemente um empreendimento, o O’LIVING, cuja maior parte dos fornecedores e marcas seleccionadas são nacionais, podendo ainda reduzir a pegada ecológica do projecto. É o lado positivo deste contexto e da reacção a estas medidas.

Por último, na segunda metade de 2021 o sector residencial terá um novo desafio, a meu ver perfeitamente evitável, que passará por nos reinventar sem o trunfo dos Vistos Gold que, de relembrar, sempre foi um importante elemento para trabalhar a atractividade do nosso mercado perante investidores internacionais.

Que medidas devem ser tomadas em 2021?

Em linha com a resposta anterior, parece fundamental que toda e qualquer medida que vise reduzir a burocracia e aumentar a celeridade dos processos de licenciamento, são de crítica importância.

Antevendo que o mundo possa vir a mudar um pouco em resultado desta pandemia, no que toca a proximidade entre pessoas, diria que é importante criar medidas de apoio às Proptech no sentido de incentivar a criação de novas ideias que visem conjugar a tecnologia com o imobiliário, permitindo também aqui acompanhar os novos critérios de procura.

Por último, Portugal prepara-se para receber 45 mil milhões de euros de fundos comunitários que serão injectados nos próximos sete anos na economia nacional. Cria-se, então, uma nova possibilidade de se aprender com os erros do passado e aproveitar esta nova oportunidade para aplicar bem e de forma racional estes fundos. O sector imobiliário não será excepção, pelo que me parece fundamental que o governo tenha em linha medidas de incentivo e de apoio a um sector que representa cerca de 12% do PIB. Muitas nem carecem de investimento directo, apenas de revisão estrutural e legal, como seja a lei das rendas que tem sofrido alguns reveses, assim como a atribuição de benefícios fiscais à construção nova, que tardam em aparecer e que, noutros contextos, provaram ser uma solução prática e capaz.

http://www.diarioimobiliario.pt/Actualidade/Imobilario-Um-sector-mergulhado-na-incerteza-mas-sem-perder-a-confianca

Referência : https://www.diarioimobiliario.pt/Entrevistas/Sector-residencial-tera-de-se-reinventar-sem-o-trunfo-dos-Vistos-Gold

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